um ano de newsletter
Entre relatos de estudos inovadores e o surgimento de novas ameaças com velhos problemas, vem com a gente saber o que aconteceu com a sociedade e o meio ambiente no mês de maio!
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AMBIENTAL EM FOCO - As Notícias
UFC
PROJETO DA UFC TRANSFORMA RESÍDUOS ORGÂNICOS EM BIOFERTILIZANTE NO CAMPUS DO PICI
Iniciativa do curso de Engenharia Ambiental promove sustentabilidade e inovação tecnológica
(Foto: Portal Resíduos Sólidos)
No Campus do Pici da Universidade Federal do Ceará, um projeto de extensão coordenado por estudantes e professores da Engenharia Ambiental vem ganhando destaque. Trata-se de uma Composteira Automatizada que transforma resíduos orgânicos da cantina universitária em biofertilizante natural.
A iniciativa, além de reduzir a quantidade de lixo enviado ao aterro sanitário, abastece as hortas pedagógicas mantidas pela UFC e por escolas públicas do entorno. “Nosso objetivo é mostrar que o resíduo pode ser um recurso valioso”, explica a aluna Vivian Lustosa.
A ideia é expandir o modelo para outros campi da universidade, integrando sustentabilidade, inovação e educação ambiental. O projeto também recebeu menção honrosa no Prêmio Verde UFC 2025.
CORDEIRO, Nellvictor. PROJETO DA UFC TRANSFORMA RESÍDUOS ORGÂNICOS EM BIOFERTILIZANTE NO CAMPUS DO PICI. Disponível em: <Repositório Institucional UFC: Projeto ICA sustentável: gerenciamento dos resíduos sólidos>. Acesso em: 26 mai. 2025
CEARÁ
CRISE HÍDRICA AMEAÇA COMUNIDADES RURAIS NO SEMIÁRIDO CEARENSE
Longa estiagem e uso desordenado da água intensificam insegurança hídrica no interior do estado
(Foto: Governo do Estado do Ceará)
O Ceará enfrenta, atualmente, uma das mais severas estiagens dos últimos cinco anos. Com chuvas abaixo da média, vários reservatórios, como os do Vale do Jaguaribe, apresentam níveis críticos. Em regiões como Quixadá e Crateús, comunidades rurais já dependem de caminhões-pipa para abastecimento. Segundo a FUNCEME, o fenômeno El Niño intensificou a seca, mas especialistas apontam que a gestão inadequada da água contribui para o agravamento. “O desmatamento da caatinga e a captação irregular para irrigação estão secando os lençóis freáticos”, afirma o geógrafo Ivandir Bandeira.
Com o intuito de amenizar essas consequências das mudanças climáticas, os governos municipais e do Estado buscam acelerar a perfuração de poços e o reuso de água para agricultura, apesar das medidas estruturais ainda são tímidas. A segurança hídrica no Ceará exige ações de planejamento, educação ambiental e o fortalecimento das políticas de conservação dos biomas locais.
CORDEIRO, Nellvictor. CRISE HÍDRICA AMEAÇA COMUNIDADES RURAIS NO SEMIÁRIDO CEARENSE. Disponível em:<Prognostico-Ceara-FMA-2025.pdf - Funceme>. Acesso em: 26 mai. 2025
BRASIL
“PL DA DEVASTAÇÃO” AVANÇA NO CONGRESSO E MOBILIZA SOCIEDADE CIVIL
Proposta altera o Código Florestal vigente e pode abrir brechas para desmatamento legalizado
(Foto: Instituto Internacional Arayara)
O Projeto de Lei 364/19, conhecido como PL da Devastação, segue em ritmo acelerado no Congresso Nacional. O texto propõe mudanças no Código Florestal, eliminando exigências como a averbação da Reserva Legal nos imóveis rurais e flexibilizando regras de uso de Áreas de Preservação Permanente (APPs). Ambientalistas e entidades científicas denunciam que o projeto facilita a grilagem de terras e a expansão de atividade predatórias.
A Coalizão Brasil Clima e Florestas estima que as alterações podem impactar mais de 20 milhões de hectares de vegetação nativa. A pressão popular contra o projeto cresce. Manifestações e petições digitais pedem ao Senado que barre a proposta.
“Não podemos aceitar que conquistas históricas de proteção ambiental sejam desfeitas por interesses econômicos imediatistas”, alerta Suely Araújo, ex-presidente do Ibama. “É um ataque grave contra as agendas do clima, da água e da biodiversidade, um atentado contra os nossos patrimônios naturais e que recoloca o Brasil na contramão do mundo”, completa a diretora de políticas públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro. Com base na fala anterior, a retirada da vegetação não florestal desencadeia uma série de problemáticas na ecologia dos ecossistemas dependentes dela.
CORDEIRO, Nellvictor. “PL DA DEVASTAÇÃO" AVANÇA NO CONGRESSO E MOBILIZA SOCIEDADE CIVIL. Disponível em: <Câmara aprova projeto que permite devastar área de campos nativos do tamanho de RS e PR | Instituto Socioambiental>. Acesso em: 27 mai. 2025
MUNDO
EUROPA ENFRENTA ONDA DE CALOR RECORDE E DISCUTE ACELERAÇÃO DA TRANSIÇÃO ENERGÉTICA
Temperaturas ultrapassam 45°C em países como Espanha e Itália; governos reforçam metas climáticas
(Foto: BBC News Mundo)
A Europa vivencia, neste mês de maio de 2025, uma onda de calor sem precedentes. Termômetros em cidade como Sevilha e Palermo ultrapassam 45°C, o que levou ao fechamento de escolas e hospitais e a decretos de emergência climática. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), eventos extremos como este serão cada vez mais frequentes, exigindo ação rápida. Em resposta, a Comissão Europeia anunciou a antecipação de meta de neutralidade de carbono para 2045 e novos investimentos em energias limpas.
Enquanto isso, cientistas alertam para a relação direta entre aquecimento global, desmatamento e emissões de gases de efeito estufa. “O que acontece na Europa é um reflexo do desequilíbrio climático que está sendo alimentado por ações humanas em todos os continentes”, diz Malin Håkansson, climatologista sueca.
CORDEIRO, Nellvictor. EUROPA ENFRENTA ONDA DE CALOR RECORDE E DISCUTE ACELERAÇÃO DA TRANSIÇÃO ENERGÉTICA. Disponível em:<O que está por trás das ondas de calor na Europa? - BBC News Brasil>. Acesso em: 28 mai. 2025
AMBIENT’ARTE
"Alguém liga o ar!"
Sávio Pinheiro
Engenharia Ambiental e Sanitária - UFC
FALA COM QUEM SABE!
Cidades-Esponja e o Meio
Em um cenário de mudanças climáticas e busca por soluções para problemas ambientais, surge o debate sobre a instalação de cidades-esponja, algo que já é amplamente discutido em países como a China. O arquiteto Kongjan Yu e sua idealização da natureza tomando de conta do meio e não de controlá-la para se encaixar na visão humana, poderia ser um exemplo. Esse tipo de visão levanta a questão das cidades sustentáveis e como é possível a correlação entre pessoas e natureza para a melhoria das alterações antropomórficas que prejudicam o meio ambiente em busca de reverter o cenário atual causado.
É importante entender a tecnologia das cidades-esponja e como sua implantação pode contribuir para o retardo e avanço de uma variedade de questões ambientais visando: o conhecimento dos projetos e ações que buscam tanto a incorporação como a implantação de medidas para ajudar a alcançar tais objetivos, além da existência de possíveis preocupações que possam existir antes de implementar essa tecnologia para que seja usada de forma correta e a favor do meio ambiente local. Busca-se assim fortalecer as noções de comunidade para as questões ambientais e de seu impacto positivo, gerado ao considerá-las para a humanidade.
Por Natália Oliveira da Silva
Profa. Adriana Sá
Bio do Entrevistado:
Doutora em Geografia pela Universidade Estadual do Ceará. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente - PRODEMA - Universidade Federal do Ceará. Especialização em Educação à distância: Fundamentos e Ferramentas, pela Universidade Estadual do Ceará. Possui graduação em Design - Moda pela Universidade Federal do Ceará. Licenciada em Geografia pela Universidade Paulista. Especialidade em Manifestações Culturais, Desenvolvimento Regional Sustentável, Processos de Fabricação Artesanal, Economia Criativa, Saberes Tradicionais e Ciências Ambientais. Atua na área de pesquisa em Educação, Formação Docente, Saberes Populares e Mudanças Climáticas. Professora de Geografia, Atualidades e Ciências Ambientais na rede pública e privada de Fortaleza para o ensino básico e ensino superior.
Perguntas:
Quais são os problemas ambientais que podem ser evitados por meio da adição dessas “esponjas” no meio e por que isso é importante?
As "cidades-esponja" são uma abordagem de infraestrutura verde e azul projetada para absorver, reter, filtrar e reutilizar a água da chuva de forma natural. O uso desta tecnologia visa evitar uma série de problemas ambientais recorrentes em áreas urbanas, que podemos citar como:
Alagamentos e enchentes urbanas: A impermeabilização do solo devido à urbanização intensiva que impede a infiltração da água da chuva, sobrecarregando sistemas de drenagem. Na lógica de implantação de esponjas urbanas, podemos aumentar a permeabilidade do solo, prevenindo transbordamentos e deslizamentos;
Contaminação dos corpos hídricos: Ao reter e filtrar a água, essas estruturas reduzem o transporte de poluentes, resíduos sólidos e contaminantes para rios e lagos urbanos;
Ilhas de calor urbanas: A vegetação associada às estruturas de esponjas urbanas contribui para a diminuição da temperatura média do ambiente, mitigando os efeitos térmicos intensificados pelo concreto e asfalto, além de melhorar a umidificação atmosférica;
Erosão e degradação do solo: O controle da vazão superficial preserva a integridade dos solos urbanos e periurbanos, diminuindo a perda de sedimentos e espaços produtivos.
Além disso, a adição de esponjas no ambiente fortalece a resiliência urbana frente às mudanças climáticas, melhora o ciclo hidrológico local e reduz os custos com manutenção de infraestrutura tradicional de escoamento pluvial.
Existem projetos que incentivam o desenvolvimento e o acréscimo dessa tecnologia nas cidades brasileiras? Se sim, qual objetivo eles buscam alcançar por meio disso?
Sim, aqui no nosso país encontramos iniciativas alinhadas ao conceito de cidades-esponja, ainda que muitas vezes sob outras denominações, mas que se enquadram na categoria, como por exemplo o aumento de infraestrutura verde, busca por uma drenagem urbana sustentável e soluções baseadas na natureza (SbN). Um exemplo é o Programa de Drenagem Urbana Sustentável conduzido por cidades como São Paulo, Curitiba e Recife, que vêm implementando jardins de chuva, pavimentos permeáveis, telhados verdes e reservatórios de infiltração.
Ademais, o projeto Recife 500 Anos, em parceria com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), inclui soluções inspiradas nas cidades-esponja como forma de adaptação climática. Esses projetos ajudam na redução do risco de desastres naturais, promovem justiça ambiental e acesso à água, melhorando a qualidade de vida urbana.
Mais um exemplo interessante é da cidade de Curitiba, que é referência nacional em planejamento urbano sustentável. A cidade implementou parques lineares, como o Parque Barigui, que funcionam como áreas de alagamento controlado. Em vez de canalizar rios, a água é armazenada temporariamente nos parques durante chuvas intensas, evitando inundações nos bairros.
Há algo que preocupe, positivo ou negativamente, a geografia e o cenário geopolítico em relação à implantação dessa tecnologia? Sua implantação pode ser considerada como algo urgente?
Sim. Podemos afirmar que os impactos acontecerão e podem ser explicitados no ponto de vista geográfico:
A implantação precisa respeitar a diversidade dos biomas, solos e regimes pluviométricos. O que funciona em uma região amazônica pode não ser eficaz no semiárido nordestino, exigindo projetos contextualmente adaptados.
No ponto de vista geopolítico:
A tecnologia pode acentuar desigualdades caso seja implementada apenas em áreas nobres, deixando comunidades vulneráveis mais expostas a riscos ambientais. Porém sua aplicação tende a fortalecer o compromisso brasileiro com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, especialmente os ODS 6 (água limpa e saneamento), 11 (cidades sustentáveis) e 13 (ação climática).
A implantação desta tecnologia é considerada urgente. O Brasil tem registrado eventos extremos mais frequentes e intensos, como as chuvas catastróficas no Rio Grande do Sul em 2024, o que reforça a necessidade de adotar soluções resilientes.
Como a utilização de cidades-esponja pode beneficiar no cenário mundial de mudanças climáticas, espaços urbanos e melhora da qualidade de vida?
A implementação de cidades-esponja é uma das estratégias urbanas de adaptação às mudanças climáticas mais debatidas e aceitas, pois ao analisar os cenários atuais, notamos a urgência da redução dos riscos de eventos extremos, o combate às ilhas de calor, a necessidade de um aumento substancial de áreas verdes, melhora da diversidade biológica, impactando também na melhoria da saúde pública. Com a ampliação das cidades-esponja, os avanços em relação à captação de água também ajudarão em tempos de estiagem e possível escassez hídrica.
Podemos citar como exemplo o projeto Drenurbs (Programa de Recuperação Ambiental de Bacias Hidrográficas de Belo Horizonte) que transformou canais concretados em áreas de convivência e infiltração com vegetação natural. O parque linear do Córrego Ressaca reduziu em até 70% o volume de escoamento superficial e proporcionou lazer para comunidades locais. Esses benefícios têm repercussão global, sobretudo em regiões tropicais e subtropicais, onde o impacto das mudanças climáticas é mais acentuado. A China, por exemplo, até 2023 implantou mais de 30 cidades-esponja como política nacional, demonstrando o potencial dessa abordagem que é um exemplo a ser seguido.
Existe algum malefício para o terreno ou o ecossistema a ser considerado na hora de pensar na sua implantação?
Com certeza. Apesar dos amplos benefícios, alguns cuidados devem ser tomados na implantação de cidades-esponja, através de uma análise minuciosa e precisa em pontos relevantes como:
Alterações do lençol freático: o aumento da infiltração pode elevar o nível da água subterrânea, o que é indesejado em áreas onde o lençol freático já é raso, podendo afetar fundações de construções e causar umidade em edificações.
Contaminação de aquíferos: caso não haja filtragem adequada da água infiltrada, há risco de contaminação do solo e das águas subterrâneas por metais pesados, óleos e outros resíduos urbanos.
Desequilíbrios ecológicos: intervenções mal planejadas podem impactar habitats locais e espécies endêmicas, especialmente em áreas com vegetação nativa sensível.
Manutenção técnica: os sistemas exigem manutenção periódica para evitar entupimentos e proliferação de vetores (mosquitos, roedores), o que nem sempre é considerado nos planos urbanos.
Para o sucesso dos projetos de implantação das cidades-esponja é essencial que os mesmos considerem avaliações ambientais estratégicas, estudos hidrogeológicos e envolvimento da população local desde o planejamento até a gestão.
POR ONDE ANDA…
Jéssica de Castro Sousa?

Formação: Engenheira de Petróleo pela UFC e Intercâmbio acadêmico na Kansas State University e University of Wyoming. Pós graduação em Administração de Negócios pelo INSPER – São Paulo. Trabalha atualmente na Ambev como Gerente de Planejamento Financeiro.
(“Por Onde Anda?" apresenta graduados em engenharia que seguiram carreiras em segmentos ambientais e/ou sanitários. É uma oportunidade para conhecer histórias inspiradoras de profissionais que superaram desafios e dificuldades durante suas trajetórias profissionais. A seção pode servir como referência para quem busca conhecer mais sobre as áreas ambientais e sanitárias e as competências necessárias para se destacar nesses segmentos)
Por Joyce de Castro Sousa
1) Quais fatores influenciaram sua escolha pela Engenharia de Petróleo?
Escolhi a engenharia por sempre ter afinidade com as ciências exatas. Sempre gostei de matemática, física, química e áreas relacionadas. Na época, optei especificamente por Engenharia de Petróleo porque era um mercado que estava em ascensão, especialmente com o desenvolvimento do pré-sal no Brasil, logo, achei que era um momento oportuno para ingressar nessa área. Além disso, me interessei muito pelas possibilidades da profissão, como trabalhar em refinarias ou em plataformas offshore.
2) Em sua trajetória acadêmica, qual foi o maior desafio enfrentado nos anos iniciais do curso e como superou isso?
A parte mais difícil foram as disciplinas básicas da engenharia, que envolviam muitos conceitos técnicos e cálculos complexos, foi realmente desafiador aprender tudo. Além disso, precisei me adaptar à dinâmica de cada professor, já que cada um tinha um método de ensino e avaliações diferentes, então era necessário entender como eles abordavam as matérias e o que esperavam dos alunos. Outro grande desafio foi desenvolver a capacidade de resolver problemas, algo essencial no curso. Isso exigiu muita prática e aprimoramento do pensamento crítico ao longo da graduação.
3) Na sua perspectiva, quais os principais desafios ambientais que a engenharia de petróleo enfrenta atualmente?
O principal ponto é que o petróleo não é uma fonte sustentável: além de causar impactos ambientais, ele é um recurso finito. O grande desafio, portanto, é tornar essa indústria mais sustentável, já que ela movimenta toda a indústria que depende desse setor. Então, é essencial desenvolver formas de minimizar seus impactos ambientais para garantir o seu uso responsável.
4) Como foi sua transição do ensino médio para o ambiente acadêmico universitário durante o curso?
Tive bastante dificuldade no início da faculdade, não pelo curso em si, mas pela transição de rotina mesmo. Vindo de uma preparação intensa para o vestibular na escola quando tudo era muito estruturado e concentrado em um único ambiente, então, precisei me adaptar à maior flexibilidade da universidade. No primeiro semestre, acabei relaxando demais e isso refletiu em algumas notas baixas, mas logo percebi que precisava retomar a disciplina de estudos que tinha no ensino médio, embora isso tenha sido desgastante no começo, pois já estava cansada da maratona do vestibular. Assim, com tempo e esforço, consegui estabelecer uma rotina e me qualificar para participar dos projetos de pesquisa e extensão da faculdade, que são extremamente importantes para a construção de um bom currículo.
5) A engenharia é frequentemente associada à versatilidade profissional. Em sua experiência, o que há na formação de um engenheiro que permite ter essa flexibilidade?
Acredito que a formação em engenharia exerce muito um pensamento crítico. Como mencionei, durante a graduação enfrentamos provas e trabalhos onde não encontramos respostas prontas, nós que temos que chegar nelas, ou seja, essa questão da resolução de problemas é, na minha opinião, o principal diferencial que um engenheiro oferece no mercado. Atualmente, atuo em uma área distinta da minha formação, mas um dos aspectos que mais se destacou na empresa, inclusive nos feedbacks que recebi, foi justamente minha habilidade de resolução de problemas - característica que também observei em meus colegas engenheiros, que compartilham esse mesmo perfil profissional, independentemente de sua especialização. Além disso, desenvolvemos na graduação um forte interesse pela análise de dados e criação de metodologias baseadas em fatos.
SE LIGA NA PESQUISA
COMO A AÇÃO HUMANA E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS INFLUENCIAM NA DESOXIGENAÇÃO DE LAGOS?
Estudo conduzido por pesquisadores chineses mostram o impacto do aquecimento global na desoxigenação de corpos d’água e caso na lagoa do Campus do Pici tem como principal agravante a ação humana
Por Julia Veras Guimarães
Introdução:
Desde a metade do século 20, tem sido observado um declínio na concentração de oxigênio dissolvido (OD) em rios, lagos e oceanos. Esse fenômeno, conhecido como desoxigenação, impacta o equilíbrio de ecossistemas, uma vez que o oxigênio é um fator indispensável para a realização de processos biológicos e bioquímicos. Além disso, a baixa taxa de OD pode reduzir as fixações de nitrogênio, influenciar os limites de tolerância de espécies aeróbias locais, aumentar as emissões de óxido nitroso (N2O, um dos principais gases do efeito estufa), sem contar os impactos à economia local.
Diante desse cenário, surge uma pergunta: Que fatores levam à deficiência dos níveis de OD? É isso que o estudo conduzido por um grupo de pesquisadores do Instituto de Geografia e Limnologia de Nanjing, na China, em parceria com a Universidade de Nanjing e com a Bangor University, no Reino Unido, buscou entender. A pesquisa, publicada em março de 2025 na Science Advances, analisou mais de 15.500 lagos usando um modelo de aprendizagem de máquina (“machine learning”) baseado em dados climáticos e geográficos, além de imagens de satélite, para classificar a influência do aquecimento global e das ondas de calor na perda de oxigênio dos corpos d’água. Em resposta, a análise mostrou que 83% dos lagos avaliados apontaram uma queda significativa nos níveis de OD. Com base nos resultados observados pelos pesquisadores, concluiu-se que a principal causa da desoxigenação, não só em lagos, mas também nos oceanos, é o aumento global dos níveis de temperatura da água, ocasionada pelo aquecimento global. Sabe-se que a capacidade da água de dissolver gases diminui à medida que sua temperatura aumenta.
Assim, o aquecimento da água reduz a disponibilidade de oxigênio, dificultando a respiração de organismos aeróbios, especialmente aqueles que habitam as camadas mais profundas. Em adição, lagos tropicais apresentaram ainda mais sensibilidade ao aumento de temperatura, uma vez que sua temperatura é naturalmente mais elevada. Além disso, o aquecimento da superfície da água pode impedir o transporte de oxigênio para águas mais profundas devido ao fenômeno da estratificação térmica, que consiste na formação de camadas de água com diferentes temperaturas e densidades, onde os níveis mais frios e densos tendem a afundar, enquanto os mais quentes e menos densos tendem a flutuar, dificultando o transporte de oxigênio para as profundezas.
Outro ponto destacado é o crescimento em massa de vegetação aquática e de fitoplâncton. Em altas temperaturas, algumas espécies de alga tendem a se desenvolver mais rapidamente, e simultaneamente, a matéria orgânica presente tende a se decompor mais precocemente. Como resultado, há um acúmulo significativo de biomassa, tanto viva quanto morta. Após a morte das algas e de algumas plantas aquáticas, essa matéria orgânica é decomposta por bactérias heterotróficas, que consomem oxigênio durante o processo de respiração. Esse aumento na atividade das bactérias gera uma demanda bioquímica de oxigênio (DBO) muito elevada, levando à redução drástica dos níveis de oxigênio dissolvido na água.
Caso do Açude Santo Anastácio:
O Açude Santo Anastácio (ASA), conhecido pelos que frequentam o Campus do Pici da Universidade Federal do Ceará (UFC), sofreu uma perda significativa dos níveis de OD em 2016. Inúmeros peixes da lagoa morreram devido à falta de oxigênio. Mas será que é possível relacionar o ocorrido no corpo hídrico do Pici com o estudo realizado pelos pesquisadores chineses? Vamos analisar a situação.


(Fotos: Prof. Dr. Rafael Costa)
De acordo com relatórios técnicos da Prefeitura de Fortaleza e investigações próprias da UFC, o estopim para a deficiência dos níveis de OD no Açude Santo Anastácio foi a junção de dois fatores: a descarga contínua de esgoto vinda de residências próximas à universidade e o derramamento de resíduos orgânicos e sedimentos urbanos. Tal infortúnio levou a concentração excessiva de matéria orgânica, proveniente tanto do esgoto despejado no açude quanto dos resíduos, carregados pelas chuvas. Desse modo, o acúmulo de nutrientes e de matéria orgânica gerou um quadro de eutrofização, com crescimento excessivo de algas, aumento da decomposição microbiana e grande queda de OD. A pesquisa divulgada na Science Advances afirma que lagos tropicais urbanos estão especialmente vulneráveis ao processo de perda de oxigênio devido às temperaturas elevadas que, como discutido anteriormente, influenciam a solubilidade do oxigênio na água.
Portanto, por mais que o gatilho para a redução drástica do nível de OD não tenha sido aquecimento climático por si só, o caso do Pici exemplifica uma tendência global de agravamento das condições das águas de corpos hídricos impactados por atividades humanas e mudanças climáticas. Casos como o do Santo Anastácio, infelizmente, ainda são comuns em centros urbanos, motivo pelo qual servem de alerta. A responsabilidade pelo cuidado com os corpos d’água, inclusive, é compartilhada: começa com atitudes simples da população, como atenuar e até mesmo evitar o descarte incorreto de resíduos urbanos, lixo e esgoto, além de se atentar para os impactos do efeito estufa no aquecimento global em suas comunidades, tais como a mortandade incomum de peixes durante o episódio de 2016 no Pici.
Referências consultadas:
PMF – Prefeitura Municipal de Fortaleza. Relatório técnico: monitoramento da Lagoa do Pici após mortandade de peixes. Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (SEUMA), 2016.
MARQUES, Ana Karla; COSTA, João Paulo; SILVA, Andréa R. Avaliação dos impactos ambientais na Lagoa do Pici: estudo de caso após evento de mortandade de peixes. Anais do Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES, 2017.
Se quiser saber mais, acesse este artigo em inglês da revista científica Science Advances: Climate warming and heatwaves accelerate global lake deoxygenation | Science Advances.
Equipe Gazeta
João Pedro Vasconcelos
Editor-chefe
Ana Vivian Lustosa
Repórter
“Por Onde Anda?“
“Na boca do povo!”
Henrique Menezes
Repórter Audiovisual
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Redator e Repórter
“Ambiental em Foco”
“Na boca do Povo”
Jussara Bessa
Redatora
"Se Liga Na Pesquisa!"
Levi Martins
Redator
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Mauro Filho
Redator;
“Ambiental em Foco”
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